CATEDRAL DE PENSADORES, POETAS E SOLIDÕES

Aos santos de balcão, aos pregadores de
esquina e aos mensageiros de bandeja.

A Catedral é o coração simbólico de uma cidade,
e até onde estende esse simbolismo?
Seria a religiosidade sinônimo de devoção?
A frequência que define seu valor?
A alcunha daqueles que o chamaram “sagrado”?
Seria a escuta dos lamentos que a faz necessária?
Ou a autocrítica que provoca?

Catedral é centro de reunião, é espaço de escuta e onde verbo é rito.
Catedral é cura, é encontro. É riso e tem choro.
Expande horizonte e faz ver o sagrado humano,
o sagrado cotidiano.

O interior vira eco aos mais acalorados,
o barulho vira prosa pros mais afortunados.
Os mais prolixos em partituras, transbordam em lamento
que mais parece festa.

Se veem de muitos e se veem só.
Uns de amarelo, e outros que só molham o gogó.
Quem disse que intelectuais permeiam paredes brancas?

Aqui onde as conversas sem papas são realmente desafiadoras,
o diálogo é sincero e sem kimono,
no olho ao olho onde o único desvio vem do percentual etílico.

Os cultos usam chinelo e a curadoria é feita em giz e à mão.
Tem poesia que se escreve em guardanapo,
solitários que lamentam em copos,
e fiado é prelúdio à negação.

Sem canapé, mas com alho.
Sem malbec ou cabernet, mas com ouro.
E muito se sabe que, de um gole d’ouro,
se espanta mal agouro.

Catedral é o bar como lar de ideias, como encontro
ou refúgio do desencontro.
É a esquina onde o verbo se embriaga.

Brindar a saideira, a entradeira
e todas as eiras no meio do caminho.
Brindar do choro ao gozo, do culto ao tosco.
Brindo ao torresmo, ao centeio e ao fim,
pois hoje me acabo — amanhã cá estou aqui.