
MANIFESTO CRU

MANIFESTO CRU
Se despir de tudo, entregar cada pedaço do momento, cada sentimento dolorido, cada pesar de melancolia e penar de dureza. Se oferecer cru e nu. O manifesto é uma ode à realidade, a fuga oposta ao direcionamento que segue a modernidade, que é o ser se mostrando para o mundo em vitrais virtuais com alegria e soberba que se opõe a também existentes selvageria e abismos. Ele traz equilíbrio. Expõe as impurezas e incertezas como pancadas e fluidez, umas em metáforas, outras nem tanto.
O que sente com os olhos? O que enxerga com o coração? As entidades pintadas em preto, o homem do chapéu escuro, a felina mulher com o olho de proteção, o copo de leite em flor invertida, um cão de despedida velada e antecipada. O rupestre traz origem, de barcos de papel a minhocas guanabaras, de DNA com espinhos pois nossas heranças trazem defeitos, e por fim um resgate de uma ideia. Como Zima Blue em seu pop show, a busca por mais conhecimento e mais sabedoria e talento sempre nos deixa a mercê de uma mesma imagem, a construída nos primórdios, nossa função inicial, nossa leveza do começo da vida até a certeza de que lá atrás sabíamos exatamente o que precisávamos, inveja que nós adultos temos das crianças, e mal sabem elas a sorte que têm.
O bege são prisões, impedem um adeus, cruzam em jaula, põem de ponta a cabeça nossa iluminação e certeza, transformam em descidas as escadas onde um frágil vaso se segura ao topo. São costelas que travam o coração, muitas vezes nossas proteções e cautelas também se tornam origem de limitações e mazelas. Onde muitos veem palmeiras e solenes praias, são grades, cercas, feitas por flores de liz, amores que foram e não vão, que prendem e impedem a visão e dão nó a garganta. O gelo é pancada, é a libertação de tudo, cair de fantasias e exposição de vulnerabilidades, pois só reconhecendo falhas que somos tomados por grandiosidades, às vezes elas vem em quatro metros.
A ânsia no peito, agito, a dança da boemia na cadeira de boteco e seus contestados lagoinhas, o sol como olho e guia, que medita, que inspira. A ideia em suas muitas fases magoada como lâmpada quebrada, em reconstrução, o brilho muitas vezes não está na criação mas na reconstrução, na reação. Olhar com beleza e apreço para um momento ou sentimento ruim dá carinho a alma, transforma em cicatriz a ferida e em iluminação o que foi fruto de ignorância, às vezes o olho, o pensar e o corpo se abrem para a melhora, a eles trago um manifesto.
Extra: o branco é caminho, cronologia que não considera tempo entre os acontecimentos, tem histórias que seguem sua própria linearidade.



