MANIFESTO CRU

MANIFESTO CRU

Obra Manifesto Cru pendurada em uma parede e Mateus DiCastro ao lado

MANIFESTO CRU

Se despir de tudo, entregar cada pedaço do momento, cada sentimento dolorido, cada pesar de melancolia e penar de dureza. Se oferecer cru e nu. O manifesto é uma ode à realidade, a fuga oposta ao direcionamento que segue a modernidade, que é o ser se mostrando para o mundo em vitrais virtuais com alegria e soberba que se opõe a também existentes selvageria e abismos. Ele traz equilíbrio. Expõe as impurezas e incertezas como pancadas e fluidez, umas em metáforas, outras nem tanto.

O que sente com os olhos? O que enxerga com o coração? As entidades pintadas em preto, o homem do chapéu escuro, a felina mulher com o olho de proteção, o copo de leite em flor invertida, um cão de despedida velada e antecipada. O rupestre traz origem, de barcos de papel a minhocas guanabaras, de DNA com espinhos pois nossas heranças trazem defeitos, e por fim um resgate de uma ideia. Como Zima Blue em seu pop show, a busca por mais conhecimento e mais sabedoria e talento sempre nos deixa a mercê de uma mesma imagem, a construída nos primórdios, nossa função inicial, nossa leveza do começo da vida até a certeza de que lá atrás sabíamos exatamente o que precisávamos, inveja que nós adultos temos das crianças, e mal sabem elas a sorte que têm.

O bege são prisões, impedem um adeus, cruzam em jaula, põem de ponta a cabeça nossa iluminação e certeza, transformam em descidas as escadas onde um frágil vaso se segura ao topo. São costelas que travam o coração, muitas vezes nossas proteções e cautelas também se tornam origem de limitações e mazelas. Onde muitos veem palmeiras e solenes praias, são grades, cercas, feitas por flores de liz, amores que foram e não vão, que prendem e impedem a visão e dão nó a garganta. O gelo é pancada, é a libertação de tudo, cair de fantasias e exposição de vulnerabilidades, pois só reconhecendo falhas que somos tomados por grandiosidades, às vezes elas vem em quatro metros.

A ânsia no peito, agito, a dança da boemia na cadeira de boteco e seus contestados lagoinhas, o sol como olho e guia, que medita, que inspira. A ideia em suas muitas fases magoada como lâmpada quebrada, em reconstrução, o brilho muitas vezes não está na criação mas na reconstrução, na reação. Olhar com beleza e apreço para um momento ou sentimento ruim dá carinho a alma, transforma em cicatriz a ferida e em iluminação o que foi fruto de ignorância, às vezes o olho, o pensar e o corpo se abrem para a melhora, a eles trago um manifesto.

Extra: o branco é caminho, cronologia que não considera tempo entre os acontecimentos, tem histórias que seguem sua própria linearidade.

Processo de criação da obra Manifesto Cru
Processo de criação da obra Manifesto Cru com Mateus DiCastro pintando
Obra Manifesto Cru finalizada, no ateliê
Imagem com a Obra Manifesto Cru finalizada. Acrílica sobre tela, 200 x 420 cm. 2023